segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Barba Azul

Outro conto interessante que eu desconhecia é O Barba Azul. O Barba azul é uma espécie de serial killer que mata as esposas como punição por sua curiosidade. Ao contrário da maioria dos contos de fadas que foram adaptados na contemporaneidade para versões menos violentas ou sem referências à sexualidade, o Barba Azul tem os assassinatos como ponto central da história e talvez por isso tenha quase caído no esquecimento, não se enquandrando no que muitos consideravam ideal para o público infantil.

Encontrei no entanto algumas edições recentes desse conto, como a da Companhia da Letras (2009, com texto original de Perrault e ilustrações do francês Zaü) e a da Ruth Rocha, (2010, Editora Salamandra, ilustrações de Mateus Rios). A edição recente dessa obra é, do meu ponto de vista, parte da tendência à recuperação de alguns clássicos da literatura infantil pouco conhecidos na contemporaneidade promovido por algumas editoras.

Esse curta animado traz uma versão divertida da história (em duas partes):

Meus cursos e um pouco de contos de fadas


Quase duas semanas se passaram e eu simplesmente não tive tempo pra escrever. Uma pena porque os assuntos interessantes que eu quero compartilhar são muitos, mas vou tentar ir pincelando aqui e ali alguns deles.

Por hoje, quero completar a apresentação dos cursos:

English Children’s Literature
Uma coisa interessantíssima do meu programa é a interdisciplinaridade. Diferentemente do curso de literatura contemporânea, que faz parte da School of Library, Archival and Information Studies, esse curso é no Departamento de Literatura Inglesa. O ponto de vista aqui é bastante diferente, com enfoque na crítica literária propriamente dita.
Confesso que sofro bastante pra acompanhar a professora e seu inglês belo, erudito, mas com um vocabulário um pouco acima do meu nível. Além de que muitas das obras às quais ela faz referência são desconhecidas pra mim, principalmente nesse começo onde estamos vendo os primórdios da literatura infantil na Inglaterra. No entanto, a lista de obras principais é interessantíssima e passa por muitos clássicos como Peter Pan, O Hobbit e Harry Potter. Que delícia ter Harry Potter na lista de leitura, hehehe.

Pra começar estamos trabalhando o livro Folk and Fairy Tales, fourth edition:
An Introductory Anthology. Se trata de uma antologia de contos de fadas acompanhada de artigos críticos. Os contos são organizados por tema e, para os mais famosos como Chapeuzinho Vermelho e Cinderela, são apresentadas diversas versões, algumas até anteriores às clássicas de Charles Perrault e dos irmãos Grimm e algumas contemporâneas que não necessariamente são voltadas ao público infantil. Uma das minhas favoritas é a versão ácida de Cinderela de Anne Sexton.
É interessante também que muitas dessas histórias fazem parte do imaginário das pessoas mas muita gente efetivamente nunca leu nenhuma versão delas, como era o meu caso com Rapunzel, ou teve acesso a uma versão bastante água com açúcar na infância, como o caso clássico da Chapeuzinho Vermelho.
Fiquei impressionada com a versão de Paul Delarue, de 1885, em que o lobo pede diretamente à Chapeuzinho que se dispa e vá deitar com ele.
Já na de Perrault, a moral diz mais ou menos assim:
-->
“Crianças, especialmente jovens belas e bem-nascidas, não devem jamais falar com estranhos; se são bobas o suficiente para fazê-lo, não devem se surpreender se um lobo ávido as consumir, com chapeuzinho vermelho e tudo mais.
No entanto, há os lobos de verdade, com corpos peludos e enormes dentes; mas há também lobos que parecem absolutamente charmosos, de natureza doce e atenciosa, que perseguem jovens garotas pelas ruas e as tratam elogiosamente.
Infelizmente, esses lobos de língua suave e pelos macios são os monstros mais perigosos de todos.”
Outra versão que vale a pena ser lida é a de Angela Carter, chamada The Company of Wolves, de 1979. Uma versão contemporânea (e para adultos) que faz grande referência às primeiras versões mas mostra uma Chapeuzinho pós-revolução sexual.

Advanced Composition
Bom, pra fechar, estou fazendo esse curso pra alunos que não são nativos na língua inglesa. É um workshop de escrita acadêmica e edição, o que não me traz muita novidade, mas é uma boa oportunidade pra eu ter uma opinião sincera sobre o meu nível de inglês acadêmico e conhecer algumas diferenças culturais e normas de padronização, bibliografia, citações etc. O manual do curso é o The Canadian Writer's Handbook

Fiquei abismada que na América do Norte eles não tem um padrão universal, uma ABNT da vida. Tem Chicago, Harvard, Modern Language Association, entre outros. A vantagem é que buscando no servidor da biblioteca você pode selecionar os livros e artigos científicos que usou e o sistema te dá a bibliografia formatada no padrão que você precisar. Há também alguns programinhas que padronizam as citações, ainda preciso conhecer os detalhes. Aparentemente os mais conhecidos são o RefWorks e o Mendeley. No meu tempo de ECA não tinha nada disso. Será que há alguma versão deles no Brasil? Aguardo comentários...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Começando, como é natural, pelas coisas primeiras"


Depois de anos querendo entrar num mestrado e de já ter mudado de interesse diversas vezes, hoje começou meu Master of Arts in Children's Literature na University of British Columbia, em Vancouver, no Canadá.
É uma emoção muito grande estar no meio disso tudo, conhecer tanta gente apaixonada por literatura infantil e ao mesmo tempo um mundo completamente novo que eu praticamente desconheço, que é a literarura infantil em língua inglesa. Sinto que é um novo caminho que se abre pra mim, um caminho que vai definir minha existência por bastante tempo.
Esse blog tem a intenção de dar uma visão geral sobre o programa, o que está rolando de interessante por essa terras do norte em literatura infantil e divulgar minha produção acadêmica nessa área.

Back to school
Foram 12 horas hoje de imersão.
Das 9 às 12h30, apresentação do departamento. Por um segundo quase quis entrar no Mestrado em Information Studies. Trabalhar com design e livro didático faz a gente gostar dessas coisas. Mas quando começou a apresentação de Literatura Infantil vi que realmente estava no lugar certo. É um grande privilégio estar no meio de tanta gente pensando em conteúdos de ficção e não-ficção pra crianças.

New Media for Children and Young Adults (Novas mídias para crianças e jovens)
À tarde, a primeira bomba: New Media for Children and Young Adults. O professor é meu orientador, Eric Meyers, e como minha idéia é trabalhar na tese livros ilustrados e novas tecnologias, esse curso é central pra mim.
Me surpreendi que havia algumas pessoas meio perdidas, que foram "induzidas" a fazer esse curso pela coordenadora do programa, Judi Salthman. De todo modo,  o curso parece muito consistente, Eric realmente parece entender muito desse assunto e ter uma visão crítica sobre as novas tecnologias. Por um momento tive medo que ele fosse um desses geeks entusiatas sem noção, mas, obviamente, como especialista no assunto, ele é bastante ponderado.
A lista de leitura e minhas "tarefas" durante o semestre são assutadoras.
Em três semanas tenho que entregar um primeiro mini paper de 1500 palavras. Duas semanas depois, uma análise de valores de alguma peça de literatura infantil. Não sei bem o que seja isso, mas espero esclarecimentos num futuro próximo, hehehe.
Em seguida uma apresentação sobre tendências nessa área, que pode ser comentar algum novo recurso para crianças, uma app, alguma "novidade" nessa área.
Finalemnte, tem o grande paper final, que deve ser entregue em apenas 12 semanas. A verdade é que o semestre só tem 3 meses. Deve ser por isso que eles chama de term e não de semestre.
Como sempre não tenho muitas idéias pra esses trabalhos, mas estive pensando em analizar diferentes picturebook apps, ou enhaced e-books, ou storybook apps sobre contos de fadas (os nomes são muitos mas entendo que no final se referem à mesma coisa).
Como os contos de fadas são domínio público, tem uma infinidade de apps sobre eles. Acho que seria interessante comprarar essas versões. Também vai cruzar com meu curso de English Children's Literature, que começa com material sobre contos de fadas. Vamos ver como a idéia evolui.

Contemporary Literature and Other Matherials for Children (Literatura contemporânea e outros materials para crianças)
À noite, foi a vez de Contemporary Literature and Other Matherials for Children.
A professora é uma gracinha, dessas que se espera encontrar num cruso de literatura infantil. Como ela mesma mencionou, um pouco paternalista demais, mas como o restante do grupo parece mal ter saído da graduação, acho que as pessoas não se incomodam tanto. Esse é um tópico a que quero voltar eventualmente. Enquanto na graduação eu era a baby do grupo no auge dos meus 17 aninhos, agora sou a tiazinha, tentando sobreviver ao retorno de saturno e à entrada na era balzaquiana em meio à estudantes entre 22 e 25 anos, ou que pelo menos parecem ter essa idade.
A bibliografia desse curso não tem fim. Passa por todos os gêneros, mas fiquei um pouco triste que num das tarefas só tinha um livro ilustrado pra analizar e é meio sorteio, assim pode ser que eu não fique com ele. Por coincidência esse único livro é o livro de Shaun Tan, The Arrival, cuja edição brasileira ia sair pela SM, editora pra quem eu trabalhei nos últimos 7 anos. As outras obras pra esse trabalho são basicamente literatura juvenil, que não é o foco da minha pequisa. De todo modo, teremos duas classes sobre picture book e uma sobre storybook apps, o que me deixou super animada.
A indicação de leitura semanal da professora me assustou bastante: 2 a 4 livros por semana. Só não tenho aula às quintas e tenho que trabalhar em algum horário (Sara, vou terminar aquela catalogação, eu juro!!). Acho que com esses dois cursos eu já estaria com a agenda completa e ainda tenho mais dois... E o detalhe é que é tudo em inglês!
De todo modo é muito empolgante poder megulhar na literatura infantil dessa maneira e estar com gente que te inspira e que ao mesmo tempo te valoriza.

Bom, vou tentar dormir que hoje a jornada foi longa. E está só começando.