segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Misinformation about picturebook apps in The New York Times

It is amazing how bad journalism and to some extent bad science works to disinform and create social panic.

Last Saturday, Oct 11th, 2014, an article called "Is E-Reading to Your Toddler Story Time, or Simply Screen Time?" by  Douglas Quenqua was published in The New York Times science section. I suggest reading the article before continuing, as I do not focus here on summarizing it.

As a researcher in digital children's literature, I'd like to state that there is no sufficient evidence yet that book apps are any better or any worst for children than print books. Yet, the general tone of the article is negative towards the use of this technology, and although the text admits the lack of sufficient evidence, it cites studies as if they had some kind evidence against iPad apps, which is not true.

First, I'd just like to make a brief comment about one passage of the article:

"'There’s a lot of interaction when you’re reading a book with your child,' Dr. High said. 'You’re turning pages, pointing at pictures, talking about the story. Those things are lost somewhat when you’re using an e-book.'"

Really?? I don't necessarily see why parents who are experienced in co-reading with their children, accustomed to discussing the narrative, pointing at pictures, etc. wouldn't do exactly the same with a picturebook app. In fact, most of the good apps you need an action to turn the page as in a book and just as in good picturebooks some explore the so called "drama" of turning the page.

But what strikes me the most about the inaccuracy of this article is that, although the article is centered on discussing iPad screen time, each of the studies cited refer to a different kind of e-book – comparison which in itself is problematic – and it is likely (there is uncertainty in one case) that NONE of these are in fact iPad e-books. The 2013 study was conducted with Fisher Price Electronic Console Books. Fisher Price is a toy company, and although I haven't checked these specific "e-books", seeing the image presented in the article it is clear that they are significantly different from iPad picturebook apps. The 2012 study does not specify what exactly they are calling 'basic' and 'enhanced e-books'. It COULD be that the enhanced e-book is an iPad app, but then they do not specify that or mention which books/ebooks/apps they used. Although the Joan Ganz Cooney Center has a strong reputation for research in children's media, other people and I have agreed that the design and interpretation of data in this "quick" study is problematic. Finally, the third study is from 2002, when the iPad did not even exist, and refers to CD-ROM storybooks. It is clear that the experience of reading a storybook on a desktop computer, controlling it with a mouse is a completely different experience from reading a print picturebook or a picturebook app.

Another aspect to take into consideration is that none of the studies compares the same print and digital picturebooks, or same narrative present in print and digital version. Thus, the quality of the multimodal text of one book and the other may also have influenced the results. I believe we don't even need support from research-based studies to know that children have different interest and engagement when reading different narratives. The fact that a print and a digital picturebook talks about the same topic in a 'similar' fashion is not enough to assert that they have the same literary quality.

I keep wondering why so many people want to paint a bad image of picturebook apps when in fact there is no proof that they are any detrimental to children. I love print books and think children should have ample access to them. Print books should be the primary form of of reading for children, especially for the very young, but there is no need to misrepresent information to make people avoid digital picturebooks.

Journalists, please, do your job and do not spread misinformation in the science section of The New York Times.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Livro ruim pode ser bom

O blog está com cara nova! 

No cabeçalho, ilustração de John Tenniel para a edição original de Alice, publicada em 1865. Sim, no ano que vem um dos livros que marca o surgimento da literatura infantil como tal completa 150 anos! Obviamente muitas comemorações devem acontecer, como a Conferência Alice Through the Ages: The 150th Anniversary of Alice’s Adventures in Wonderland, que vai acontecer aqui na Universidade de Cambridge em setembro. O call for paper fica até 31 de janeiro, então há bastante tempo pra planejar alguma pesquisa nessa área.

...


Enquanto alguns livros gozam de quase unanimidade entre a crítica especializada (ainda que já tenha ouvido muitos depoimentos de pessoas que tinham medo na infância de Alice no País das Maravilhas ou de Onde Vivem os Monstros), outros, ainda que com alta popularidade, parecem aberrações aos olhos mais críticos.

No fundo todos temos um, ou alguns, ou muitos livros pra criança que odiamos e que não queremos ver os filhos/primos/sobrinhos nem chegarem perto. Sobre esse assunto saiu recentemente o artigo Children's Books We Secretly Wish Were Banned, disponível em http://damemagazine.com/2014/09/24/childrens-books-we-secretly-wish-were-banned.

Entre as coisas que compartilho com a autora Kate Tuttle está meu horror às princesas da Disney. Mas o fato é que, sim, as crianças vão ter acesso a esses livros na escola, na biblioteca, ou por meio dos amiguinhos. Pior, elas podem até se apaixonar por um livro desses e pedir pra você ler toda noite.

Apesar desse ser um dos maiores pesadelos de quem trabalha com literatura infantil, acho que nenhum livro deve ser banido. Os livros ruins são uma ótima oportunidade pra desenvolver o senso crítico das crianças, pra se discutir em casa os valores que estão por trás daquelas histórias aparentemente inofensivas mas que sabemos cheias de sexismo, de homofobia, de racismo, etc. Ensinar as crianças a filtrar e a fazer uma leitura crítica do que está disponível na mídia é fundamental, afinal filme de princesas tem um novo a cada ano.

Livros que eu odeio? Sim! Que eu quero banidos? Nunca.

domingo, 5 de outubro de 2014

The end is the beginning is the end

Ok, fracassei em manter o blog ativo. Dois anos do meu mestrado no Canadá se passaram, e eu postei pouquíssima vezes.

Esse post é o fechamento de um ciclo e o começo de um outro, maior. Em primeiro lugar, terminei o mestrado na UBC, em Vancouver, Canadá. Foi uma experiência riquíssima e de muita leitura e escritura, acadêmica e até criativa. Acho que a síntese desse aprendizado está na minha dissertação, e vou me alongar sobre isso mais abaixo.

Agora a fantástica boa nova é que vou continuar fazendo uma das coisas que eu mais gosto: pesquisar álbuns ilustrados. Dessa vez a responsabilidade é maior, mas seguramente também vai ser o resultado. Pelos próximos três anos, estarei realizando minha pesquisa de doutorado no lugar mais mágico que há para se estudar literatura infantil hoje em dia: o The Cambridge/Homerton Research and Teaching Centre for Children’s Literature, na Universidade de Cambridge, Inglaterra.

Homerton College, minha morada pelos próximos anos e parceiro da Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge no The Cambridge/Homerton Research and Teaching Centre for Children’s Literature.
Fui aconselhada a fechar esse blog e a começar um novo, uma sugestão muito contundente, afinal o processo de começar novo algo já gera um ânimo extra e serve como uma espécie de ritual. Acontece que eu sou uma pessoa apegada... Além disso, o título do blog, que começou com a associação boba entre meu nome e o de Alice, ganhou muito mais sentido ainda agora que estou por essas bandas. Como no final das contas o objetivo desse blog segue o mesmo – falar sobre literatura infantil e divulgar o que tenho aprendido durante esses anos de pesquisa – decidi manter o Aline no País das Maravilhas.

Vou me conter nas apresentações de Cambridge e de todos os recursos que há por aqui; isso fica para os próximos posts. Para fechar com chave de outro a primeira fase do blog, quero falar um pouquinho da minha dissertação de mestrado:

Playfulness in e-picturebooks: how the element of play manifests in transmediated and born-digital picturebook apps

A tese em inglês pode ser baixada diretamente do repositório digital da UBC: http://goo.gl/SDpTI4.
Os slides da defesa podem ser vistos no Prezzi: http://goo.gl/oqhKEc

Nesse trabalho, analisei os aspectos lúdicos de oito picturebook apps, quatro deles criados exclusivamente como livros-aplicativos para o iPad (chamados de "born-digital", ou nativos-digitais) e os outros 4 adaptados para o iPad a partir de um livro já publicado na versão tradicional impressa (categoria dos livros transmediados, do inglês transmediated).

O termo picturebook app ainda não tem tradução em português, mas eu gosto de chamar de álbuns digitais interativos – apesar dessa terminologia ir além dos livro-aplicativos e incluir também livros digitais para computador, por exemplo.

Os livros analisados foram:
Transmediados

Nativos digitais
Lil’ Red (2012)

Na minha pesquisa eu considerei três categorias por que o lúdico pode se manifestar nessas narrativas:

1. O lúdico na relação entre os diversos modos de texto (verbal, visual, sonoro, kinético, interação, etc.). Por exemplo, quando a imagem e o texto são contraditórios, gerando humor.

2. A metaficção como lúdica, ou seja, nos jogos metaficcionais existentes nessas narrativas, que promovem o questionamento de ou chamam a atenção para a própria noção de ficção. Por exemplo, quando um personagem se dirige diretamente ao leitor, questionando a barreira entre fição e realidade.

3. O lúdico manifestado pela performance, ou pelo engajamento corporal como parte do processo de leitura. Essa performance pode ser explícita, quando o leitor teatraliza uma situação da narrativa. Por exemplo, quando tem que soprar o ipad ou gravar sua própria voz como parte da história, ou implícita, quando seus gestos apenas controlam uma performance realizada efetivamente pelo personagem na tela, sendo o exemplo mais comum quando o leitor toca em um personagem e ele realiza uma ação.

Vou entrar em maiores detalhes sobre esses aplicativos e seus aspectos lúdicos nos próximos posts, já que nos próximos meses pretendo retomar essa pesquisa para escrever um artigo com os resultados.

Prometo ser bem mais ativa nos próximos meses. Assunto é que não vai faltar.